Esta postagem será duas em um: um relato da minha participação na segunda etapa da Brou; e uma resenha do livro O Velho e o Mar, de Ernest Hemingway. Pretendo demonstrar que o conto de Hemingway tem tudo a ver com o que ocorreu comigo nesta prova. Bom, provas não são apenas desafios físicos, mas nos remetem as nossas mais profundas experiências estéticas devido aos sentimentos produzidos durante o desafio.

O primeiro trecho de mountain bike nos levava para o alto da serra onde boa parte da prova se desenrolaria. Um erro de interpretação do mapa me fez perder tempo me jogando para ultima colocação da categoria solo. Erro concertado, comecei a fazer uma prova de recuperação. Três adversários erraram de uma só vez fazendo com que eu saltasse da quinta para a segunda colocação, com um Humberto Couto seguindo na liderança 40 minutos na minha frente. Transições rápidas, precisão na navegação noturna e o preparo físico em dia me facilitaram entrar para a última pernada da prova na segunda colocação e com uma boa vantagem dos concorrentes que vinham atrás. Eram 22km de remo noturno, com um frio de 7 graus no marcador (ou seja, sensação térmica beirando a zero) que me esperavam.

Como tinha visualizado no mapa, bastava eu remar um pouco para o meio da represa e colocar um azimute de norte que bateria de frente no ponto que iria entrar para pegar o ultimo Pc. Esqueci de descontar a declinação magnética e passei 10 km da entrada do pc... Aqui entra o conto de Hemingway.
Ernest Hemingway é um escritor norte americano que fez parte da "geração perdida", um grupo de jovens escritores que se reuniram em Paris ao redor de Gertrude Stein. Ele foi contemplado com um personagem no filme Meia-Noite em Paris (2011) de Woody Allen, fazendo com que meu interesse por seus livros fosse despertado. O Velho e o Mar é um de seus principais livros, dando ao autor, em 1954, o Prêmio Nobel da literatura. Bom, o que um autor surrealista tem a ver com aventuras? Tudo, digamos.
Este livro narra a história de um velho pescador cubano, Santiago, que a três meses não pesca um peixe, já considerado um azarão. Saindo sozinho para pescar, todos os dias, Santiago sempre acredita na sua capacidade e tem uma fé inabalável de que irá pescar um grande peixe. Ele tinha um jovem garoto como ajudante que o admira muito, mas devido a seu azar a familia do garoto fez com trocasse de barco. Santigo consegue fisgar um grande peixe espada, de aproximadamente 5 metros de comprimento, e passa dois longos dias e noites lutando contra todas as adversidade e brigando para matar o peixe. Nessa interminável luta, Santiago se vê a volta pela solidão e por seus pensamentos. Após conseguir matar o peixe ele o prende na embarcação, entretanto no caminho de volta é atacado por tubarões chegando a costa apenas com a espinha do peixe, o maior já visto pelos pescadores locais.

Voltando a prova, quando notei que tinha errado já tinha remado por 3 horas e meia represa abaixo e estava bem debilitado. Parei para dormir e de manhã peguei o rumo de volta. Com a cabeça bem abalada visualizei pela manhã o local que deveria ter entrado, mas com medo do PC não estar mais lá rumei direto para a chegada. Ao chegar fui informado que Humberto Couto tinha retornado sem pegar o PC; outro atleta solo, Matheus Alves, que vinha fazendo uma bela prova ficou bem abalado com um erro que cometeu no último trecho do MTB e não saiu para remar; apenas Marcelo Santos conseguiu pegar o PC, na solo, mostrando por que é o atual líder do ranking brasileiro.
Ora, assim como Santiago me senti ao término da prova. Tinha, realmente lutado contra todas as adversidades durante o percurso, posso dizer que 85% da prova fiz sozinho, apenas acompanhado pelos meus pensamentos (que não são poucos nem claros nestes momentos) e a noite pelas estrelas que davam um verdadeiro show de luz. A despeito de todo o azar e falta de experiência venho melhorando a cada prova e com o tempo creio que chegarei lá. Bom, se não chegar também não tem problema, o pódio é apenas alimento da nossa vaidade, digamos nossa maior vaidade como atleta. Mas, fazer uma prova magnífica em meio a natureza como esta, continuar a viver a vida intensamente e nunca perder a fé é sempre meu maior objetivo!
Abraços a Todos!
Pedro Alex
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