terça-feira, 4 de setembro de 2012

Expedição Terra de Gigantes: começando na tradição

        Desde que comecei a fazer corrida de aventura tinha muita vontade de competir em quarteto, afinal é forma "tradicional". Fui convidado pelo Papaventuras, um quarteto muito especial comandado pelo capitão Valmir e sua esposa Rose e Pedro Pinheiro, para competir a Expedição Terra de Gigantes ao lado deles. O palco Penedo, um vilarejo, caracterizado pela colonização finlandesa, encravado no meio das serras cariocas. Bom, só posso dizer que foi bem especial. 
            A largada foi dada as 8 da manhã com um sol lindo, algumas equipes chegando atrasadas e uma forte descida, fazendo com que o ritmo já fosse alucinante desde da largada. A equipe tinha uma estratégia a seguir, que já é uma caracteristica do Papaventuras: um ritmo constante e uma navegação precisa. Logo no inicio Pedro Pinheiro dava sinais de que não estava bem (o cara tinha sofrido um acidente de moto uma semana antes e estava com a costela trincada e competindo a base de analgésicos...), peguei sua mochila para facilitar seus movimentos. 
         Começamos a bike e pareciam que os problemas de Pedro tinham se resolvido. O ritmo estava bom, tinhamos vários quartetos ao nosso lado e Valmir agia como um buda, sem dar a mínima bola para que posição estavamos. Muito interessante a forma como ele conduz a equipe: uma concentração total na navegação e nas pessoas do quarteto, sem se importar com a posição. Começou um sequência de duras subidas e um calor absurdo. Várias equipes estavam sofrendo com o calor e a nossa não era diferente. Pedro começou a ter hipertremia (quando a temperatura do corpo fica muito quente e mecanismo do corpo não consegue reagir), paravamos a todo instante na subida para ele se recuperar. Eu carregava a mochila de Rose e Valmir empurrava a bike de Pedro para facilitar sua locomoção. No alto da subida um presente de Deus: uma mangueira que serviu para um delicioso banho para espantar o calor. Pedro apresentou uma melhora e apreçamos nosso passo, tinhamos que passar no corte para seguir na prova.
Pico Pedra Selada ao fundo.
         Entregamos a bike uma hora antes do corte, nada mal, mas nos esperava uma subida de quase mil metros de desnível. Saímos num passo constante e fomos acertando bem o caminho. A subida era realmente muito dura, uma trilha exposta, por onde desmatamento avançou para servir de pasto, para em seguida embrenhar dentro de uma mata fechada. Conseguimos ganhar uma posição que foi providencial. No cume uma recompensa, visão panorâmica de 360º graus no alto da Pedra Selada com direito a um rapel de tirar o fôlego.
      Ao descermos a serra tinhamos um monótono estradão para chegar no remo. É imprecionante como é chato andar sem navegação e em estradão, não acaba nunca!! Chegamos no remo, comemos bem, colocamos roupas de frio pois a noite caiu e com ela o frio. O remo era num rio de aguas límpidas e sinuoso. A temperatura ambiente era mais baixa que da água fazendo com que saísse um "vapor gelado" que dificultava a visão e abaixava a temperatura. Já rezava pelo final do remo quando avistamos a área de transição. Pedro se recuperava e parecia que tudo começava a melhorar. Ledo engano.
            Do extremo calor ao meio dia fomos ao frio de matar a noite. Comecei a sofrer muito com o frio ao sair do rio os papéis se inverteram: eu passava mal e Pedro me ajudava. O frio fazia eu ter delírios e um sono que quase me derrubava, literalmente, no chão. Era um pequeno trekking, aproximadamente 6km, até área de transição, mas parecia uma eternidade. Meus pensamentos só conseguiam visualizar a área de transição com uma grande fogueira para me aquecer. Ledo engano 2!! Quando chegamos lá encontramos apenas duas pessoas responsáveis pelo PC com o mesmo frio que nós, entretanto secos. Colocamos todas nossas roupas de frio e partimos para o último MTB para terminar a prova.
Subida final para chegada.
         Quando plotamos nossa rota no mapa, guiados pela primieras informações da prova, não demos conta que o trecho final era de 100km, na nossa cabeça era apenas 50km... Por um lado foi bom, ludibrio nossa mente para a pancada final de pedal. O sono começou a atacar todos da equipe, eu quase cai da bike após uma "pescada" e Pedro caiu. O negócio estava feio, a única esperança era os raios do sol para tirar o sono, mas faltava 30 minutos. Paramos para comer e eis que surge um quarteto, o Enigma, e nos ultrapassa.
         Foi como um tapa de luva na cara que nos acordou na hora. Um pouco mais a frente encostamos neles de novo, bem em uma longa e dura subida. Valmir ia frente, eu um pouco mais atrás e Pedro também. Evitava olhar para o final da subida pela sua inclinação e extensão quando escuto um barulho de pneus tracionando no cascalho solto e nos ultrapassando, quando olho para o lado é a menina que corre no Enigma. Não contente em subir forte ela deu uma verdadeira "chapuletada" na nossa cabeça. Bom, para nossa sorte, alguém do Enigma enfrentava problemas. 
         Animos recuperados, junto da posição, e com os primeiros raios do sol, o sono passou. A prova parecia que tinha começado para todos nós naquele momento. Valmir como um verdadeiro perseguidor falava, "Esses rastros de pneus estão muito frescos, estou vendo a hora que avistaremos outro quarteto!" Quando picotamos o último PC não deu outra, avistamos o quarteto Curtlo Lobo-Guará. Num final emocionante ganhamos uma posição. Um trecho de asfalto nos levava de volta ao distrito da Serra do Alambari, onde tinhamos largado. Entretanto, tinhamos uma subida final impiedosa, chata e longa para superar. 
Todos juntos cruzando o pórtico.
         Chegamos com 26 horas de prova a apenas 15 minutos do 5º colocado, a Xingu, e nos colocando entre os melhores quartetos do país. Sorrisos na face expressavam a satisfação de terminar bem uma prova dura que conseguiu nos levar aos extremos que buscamos. Para mim foi uma satisfação sem palavras competir ao lado da família Papaventuras, uma verdadeira aula de espírito de equipe. Quarteto, com certeza, é a essência da corrida de aventura, e olha que a maioria das minha provas competi na solo. Acho que no quarteto conseguimos trabalhar aquilo de máximo que este esporte tem a nos oferecer: situações limítrofes com o espírito de equipe. Em equipe você tem que aprender ajudar e a respeitar seu companheiro(a), pois a equipe é UM, formado por quatro. Acho que os poucos estou me formando como um corredor de corrida de aventura, como uma grande lição do Capitão Valmir, "corredor de aventura é aquele que se sente confortável em situações adversas". Ora, acho que é isso que busco aprender, para as provas e para vida.
Abraços a todos,

Pedro Alex

2 comentários:

  1. Muito bom seu relato Pedro, sou suspeito para falar do Comandante Walmir, correr com a Papaventuras foi uma das melhores experiências minhas e parece que você descobriu isto também, abração

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  2. Boa noite, meu nome é Igor e sou do rj. Em abril estou querendo participar do terra de gigantes em buzios, mas ainda tentarei formar meu quarteto. Nao tenho tanta experiencia nessa prova tao longa do terra, pois so participei do adventure camp prova light 25 km. Lendo esses relatos me empolgo mais ainda com isso td. Se possivel, gostaria de algumas informacoes a respeito d treinos para a prova. Abcs Igor. (if.anjos@hotmail.com)

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