Chegamos na ultima parte da viagem, e nada melhor que reservar o melhor para o final. A muito tempo que eu tinha vontade de fazer uma escalada em alta montanha, e o Huayna Potosí se mostrava como uma excelente opção. Fechamos um pacote turístico com a mesma agência que tínhamos feito a Estrada de La Muerte, e pagamos 120 dólares por três dias. Um preço razoável já que vinha todos os equipamentos incluídos, comida, guia e um dia de curso para aprender a usar os equipamentos.
A Cordilheira Real na Bolívia é um dos melhores lugares para quem quer se inserir na escalada de alta montanha: os preços das agências de ecoturismo são acessíveis (para pessoas normais como eu!); e também por que na sua extensão tem seis picos acima de seis mil metros de altitude, sem contar com vários clássicos que estão na casa dos cinco mil metros.
O Huayna Potosí é classificada como a montanha mais fácil de ser escaladas de todas da Cordilheira Real, apesar da sua altura imponente. Isto se dá pelo fato da facilidade de acesso a o primeiro acampamento onde é possível chegar de carro a 4700m. No primeiro dia chegamos a este acampamento e realizamos um curso de como usar os equipamentos, também fizemos algumas escaladas de glaciais curtas para ganhar segurança.
No segundo dia subimos até o acampamento alto, que está situado a 5130m. O caminho foi sem grandes dificuldades, uma trilha na encosta da montanha com uma paisagem de fundo realmente surreal, e muito frio! Nesta parte do trecho comecei a sentir um pouco a altitude, me faltou o ar subindo e tive que segurar o ritmo. O Matheus que nem é atleta e tão pouco treina nenhum esporte, não sentiu absolutamente nada, seu corpo se adaptou bem a altitude já o João Paulo vinha sentindo muita dor de cabeça desde a noite anterior e subiu em um ritmo mais lento.
Chegamos no acampamento alto por volta do meio dia, estava muito frio apesar do tempo aberto. Ventava muito e a todo tempo encontrávamos grupos que tinham tentado fazer ataque no cume e tinham sucumbido pelo frio e pela altitude. Tentamos relaxar, fizemos um bom almoço – que por sinal o serviço de comida é muito bom da empresa El Solario – e descansamos pela tarde. Ficamos contemplando o pico e pensando no que nos esperava no próximo dia. A sensação era apavorante, pois éramos completamente inexperientes em alta montanha, fazia muito frio, e ainda tinha aquela adrenalina correndo.
As seis da tarde foi servida a janta e já nos retiramos para descansar, íamos tentar o ataque no cume a meia noite. Deitei-me e senti a altitude batendo forte, não conseguia dormi por nada e meu coração estava muito acelerado, o resultado foi que não consegui pregar o olho. Foram seis horas apavorantes, a sorte é que o Matheus me emprestou seu mp3 e escutei algumas musicas.
A meia noite em ponto levantamos e começamos a nos equipar e a comer o café da manhã. A noite estava linda, um céu estrelado que parecia que tinha sido montado a mão para inspirarmos a subir aquela montanha. Um a um os grupos foram saindo para tentar atacar o cume, eram pelo menos uns vinte grupos. Cada grupo vai com o seu guia na frente e de duas a quatro pessoas vão ancoradas em uma corda que esta presa no guia.
Logo que começamos a subir a montanha o crampon do João Paulo começou a se soltar, ele colocava dava dois passos e soltava. O guia conseguiu resolver o problema e partimos em ultimo. O João Paulo começou a sentir o ritmo e altitude logo que saímos, ele andava um pouco e pedia para respirar. Vendo que seria muito difícil para ele alcançar o cume resolveu desistir, pois se subíssemos mais teríamos que desistir todos, caso um não conseguisse. O guia voltou com João e eu e o Matheus ficamos esperando na montanha.
Um pouco que ficamos parados o frio já começou a pegar, os pés rapidamente davam a sensação que iam congelar. Esperamos uns vinte minutos e o guia chegou, clipamos a corda e começamos a subir. O guia saiu num ritmo muito forte, porém conseguiamos acompanhar. No primeiro ponto de parada já tínhamos alcançado quase todos os grupos, o guia passava e elogia nosso desempenho pra todo mundo.
Sempre que lia sobre alta montanha todos relatavam os problemas com a altitude e a necessidade de uma boa aclimatação. Tivemos poucos dias em lugares altos e eu não estava tão aclimatado e meu corpo se mostrou mais lento para responder a este processo. Quanto chegamos a 5500m as coisas começaram a mudar, comecei a passar muito mal, parecia que estava bêbado com uma forte vontade de vomitar.
A subida foi seguindo a lentos cinco passos por vez, parava e tinha que descansar para passar a sensação de ânsia. O guia queria que eu desistisse o tempo todo, falando que era perigoso ter problema naquela altura. O pior foi que o final da montanha era uma crista muito estreita e ventava muito. Cheguei verdadeiramente na raça, como a aquele velho brasileiro “que não desiste nunca”. Fazer cume foi como algo indescritível, era cinco e meia da manhã, o sol estava nascendo de um lado e do outro víamos a cidade de La Paz com suas luzes ainda acesas. Não dava para acreditar que tinha conseguido, foi realmente muito difícil para mim, e o Matheus não sentiu nada fez um verdadeira caminhada em alta montanha.
Só ficamos míseros 10 minutos no cume, o frio é muito forte -20°C e é perigoso congelar as extremidades. Fizemos algumas fotos e descemos, a volta foi bem cansativa mais chegamos ao acampamento e já encontramos com o João dizendo que no próximo ano queria voltar para conseguir fazer cume. Fica ai uma lição que os desafios nos deixam, às vezes é melhor voltar quando não se está confiante, pois em situações extremas só o que nos separam entre a vida e a morte á a tranqüilidade para superar os momentos difíceis.
Assim, fecho está viagem maravilhosa por estes dois países da America Latina. Provamos outras culturas, comemos comidas que não estávamos acostumados, dormimos em qualquer lugar, ficamos alguns dias sem tomar banho sem contar com tantas outras experiências bizarras e felizes. Fazendo um balanço podemos definir esta viajem: de mochilão; viaje histórica; e ecoturistica. Mas pensando com o coração, é tudo que acontece quando bons amigos se reúnem para conhecer novos lugares trazendo todas estas ânsias na bagagem.
Viajar é isto, e se colocar nestas situações, é conhecer os lugares mais bonitos nas situações mais adversas para depois voltar para casa e descobrir que nada melhor que sua cama e sua comida, mas, ao mesmo tempo, não viveria sem saber como são estes vários “Outros” que estão a nossa volta. Os viajantes são estes sujeitos que não vivem sem a experiência de conhecer o diferente, temos sede de ver novas paisagens e povos mergulhar no inusitado e voltar para contar tudo depois!
Show de bola , lugar especial, vcs tiveram a manhã total ....apda 4ever
ResponderExcluirOlá amigo, tem alguma dica para dar sobre melhor época para ir para o Huayna Potosí 6088m? Qial empresa escolher?
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