segunda-feira, 1 de agosto de 2011

2° etapa da Brou Aventuras / Aranha: Por que faço corrida de aventura?

No último final de semana rumei para Aranha, distrito de Brumadinho próximo à cidade de Belo Horizonte, para disputar a 2°etapa da Brou Aventuras. Uma região especial, cercada por altas montanhas e uma paisagem incrível. A prova na categoria Pró era dividida em 35 km de trekking, 35 km de Mountain Bike, 19 km de remo, um rapel de 40 metros, sem contar a navegação.
A largada foi dada por volta das 9 horas da manhã na praça central de Aranha. Partimos para um sessão de Trekking de 16 km. A galera saiu num ritmo muito forte desde o começo da prova. Traçamos uma estratégia de não forçar muito no começo, pela distância que tínhamos pela frente. Fizemos este trekking no segundo pelotão, sempre revezando entre os três primeiros da prova com as duplas, Advogados Aventureiros e a ARS.
Saímos para o remo em terceiro. O rio era realmente maravilhoso, com a maioria do trecho repleto de mata ciliar e para completar, um verdadeiro empurra caiaque por um rio raso. Num desempenho fora do normal meu e do Marcos, finalizamos o remo na primeira colocação da prova nas duplas.
Fizemos a transição rápida e partimos para um trecho de mountain bike, com uma parada no meio para o rapel, realizado apenas pelo Marcos. Entregamos a bike na transição junto com as duas outras duplas.
Nesta transição, recebemos um mapa para o trecho de trekking que seguia. Peguei o mapa, conferi os Pcs e partimos em terceiro para esta sessão de trekking. Era realmente maravilhoso este trecho da prova. Tínhamos que subir para o alto de uma serra alucinante e, detalhe, sem trilha.
Nessa hora, tentei uma estratégia que no mínimo era ousada. Como o caminho mais provável subia por um trecho sem trilha, resolvi arriscar e começar a subir a serra um pouco antes do que estava previsto pelo mapa. Entramos num rasga mato danado e logo já estávamos escalando a serra. Era bem inclinado, mas usando as “canela de ema” dava para ganhar um pouco de confiança na subida. Rápido estávamos no alto da serra. Voltamos um pouco para bater o pc 10 e encontramos com o atleta solo Pablo. Ele nos avisou que o pc estava logo a frente e elogiou o ritmo que estávamos.
Bati o pc 10 e o trekking nos levava pelo cumeeira da serra. Estava um final de tarde maravilhoso, de um lado da serra eu via BR 040 e do outro, vários vilarejos no meio do mar de montanhas. Mas ventava muito forte e gelado.
Nem acreditávamos, pois quando fui assinar o pc 10 vi que estávamos em primeiro nas duplas e em terceiro na geral da prova. Foi uma injeção de ânimo que nos ajudou a dar mais energia para fazer este trekking. Com um ritmo muito forte, alcançamos a área de transição na liderança das duplas e em terceiro geral.
Chegamos empolgados pelo desempenho, com a galera elogiando nossa posição. Quando conversando com Zé Elias (organizador), percebi que tinha esquecido de bater o pc9. Foi um verdadeiro banho gelado. Pensávamos que iriamos ganhar a corrida e de repente estávamos desclassificados. Eu não acreditava que tinha cometido esse erro, ainda mais porque eu era o navegador!
Bom, tentamos nos consolar falando do nosso desempenho. Quando a galera da imprensa que estava cobrindo o evento chegou e começou a conversar me pedindo para relatar o que tinha acontecido na corrida e iria me fazer uma pergunta. Tudo bem! - respondi.
De repente, uma câmera apontada para minha cara, com uma luz improvisada para captar a imagem, e surge uma das questões mais difíceis que já me fizeram, e olha que prestei uma prova de mestrado à pouco tempo!
A pergunta era a seguinte: “por que você faz corrida de aventura?” Nossa, naquela hora que de líder fui para desclassificado, era realmente difícil de responder. Não me lembro direito, mas creio que dei uma resposta no sentido que era porque queria ter histórias para contar.... e que corrida de aventura nos ajuda a dar valor em pequenas coisas que temos na vida, como um simples prato de comida ou mesmo um cama quentinha.... Mas, esta resposta não me convenceu, principalmente depois do corpo frio em casa escrevendo esta postagem.
Lógico, que ficar em situações extremas nos ajuda a refletir sobre essas pequenas coisas, ainda mais neste mundo que vivemos hoje, onde que o luxo e os prazeres são os bens mais cobiçados. Mas, creio que quem pratica este esporte (que é no mínimo bem diferente dos outros convencionais) pode até gostar dessas coisas, mas não as têm como objetivo último de suas vidas. Senão, por que diabos estaria se enfiando no meio de um mato, cheio de carrapatos, iria passar frio no alto de uma serra, ter de ficar procurando o caminho morrendo de fome e cansaço??
Por quê? Esta é pergunta que justamente me faço agora, para tentar responder esta pergunta. Corrida de aventura me parece com o jogo da vida (se me permitem esta alegoria), em que nem sempre é o mais forte que ganha, onde temos que ter estratégia, objetivo, perseverança e se esquecer um pequeno detalhe não dá para voltar atrás e pegar novamente. O rumo é sempre pra frente. Quando erramos, na corrida de aventura (e na vida), não temos muito tempo para concertar, e se o erro for caro só nos resta uma coisa, seguirmos em frente e tentar não fazer de novo!!
Acho que é um pouco disso que acaba me motivando a fazer corrida de aventura, é um esporte que acabamos criando outro jogo da vida ali dentro. Temos de treinar várias modalidades, nos preparar para qualquer desafio, ter companheirismo, pois tirando os solos (que são amigos de todo mundo) dependemos dos outros para o nosso desempenho. Não é um pouco isso que vida nos cobra?!?!
A verdade é que apesar de não termos ganhado e nem mesmo conseguido terminar (pois, quando desistimos ainda faltava a última perna de MTB) saí completamente satisfeito. Passei por lugares maravilhosos, fiz bons amigos, me coloquei em situações que jamais pensei que estaria em minha vida. Bom, e fiquei com mais um aprendizado para as próximas provas. Em outras palavras, consegui o objetivo que proponho a fazer corrida de aventura, viver minha vida intensamente e, de preferência, no meio da natureza!
Galera da Brou, Juninho, Zé Elias e Rachel, parabéns pela prova! Vocês estão brutalizando nas suas corridas, escolhendo lugares maravilhosos para passarmos e conhecermos. Fico muito agradecido de ter começado nas provas de vocês, e de tantos perrengues passados, conseguir evoluir um pouquinho mais no esporte e na vida.
Acho que me esqueci da última coisa para descrever o porquê faço corrida de aventura (não que já esteja satisfeito com minha resposta). Tem que gostar um pouquinho de sofrer né?! Acho que Corrida de Aventura deve ser um dos poucos esportes no Brasil, que por enquanto é feito só por Amadores, ou melhor, “Ama-dores”, pois tem hora que dói, e muito!